fevereiro 28, 2006

mardi gras

as pinturas ainda mancham os teus olhos. o batôn continua nos teus lábios. o olhar fixo em direcção ao espelho que teimas em fitar. uma imagem que já não reconheces. de tanto te esconderes por detrás dela, deixaste de ser capaz de ver o que lá se encontrava antes. choras cada dia que sentes a dor de te teres transformado num travesti da pessoa que eras. mas nem as lágrimas te lavam. mudam-te apenas a aparência. cosmética que não chega para recuperar a alma que eu dia tiveste e perdeste.

one of these days

hoje quis-te
hoje desejei-te [com todas as minhas forças]
tocar-te e sentir a tua pele estremecer
ao sincrozinar o bater do meu coração com o [do] teu
hoje imaginei-te
dormindo ao meu lado
hoje sonhei-te
sorrindo em direcção ao futuro
esquecendo as vicissitudes da vida
hoje senti-te
[chamando por mim] sem palavras e sem gestos
hoje amei-te
e amanhã?

fevereiro 27, 2006

sheets

como amantes rejeitados, clamam por mais tempo em comum. chamam constantemente. imitando a chama, tentam atraír, na esperança que a evolução tenha deixado reminiscências de Operophtera brumata no meu âmago. vou resistindo até que as forças me abandonem. sem saber bem como nem porquê.

fevereiro 26, 2006

good night and good luck


a tale of witch-hunting in the 1950's

um filme para relembrar o papel da tv e dos media. entertenimento não (pode) substitui(r) a transmissão de informações, a promoção da discussão de ideias, a denúncia de situações que não deveriam acontecer. a caixa que mudou o mundo é (era) suposto mudar as nossas mentes e fazê-las trabalhar em vez de as estupidificar.

"... without that, it's only wires..."

fevereiro 25, 2006

lightbulb

turn me on
watch me light up the room
watch me boil
turn me off
leave me in the dark
cooling the circuits
turn me on
turn me off
in this closed electrical cycle
turn me on
turn me off
use me
abuse me
until i break

fevereiro 24, 2006

images and words

dizem que uma imagem vale mil palavras. como se a visão fosse uma forma estranha de economia e as palavras a personificação de tudo o que é superfluo. mas há imagens que serviriam de base a tomos infindáveis de palavras cuidadosamente ordenadas no espaço e palavras capazes de evocar imagens que parecem querer ficar queimadas na retina.

imagens que por mais palavras que sejam usadas nunca são apropriada ou fielmente descritas
palavras incapazes de ser transpostas para imagem, para algo de palpável
imagens e palavras
imagens apalavradas
palavras imaginadas
imagens que nunca se esquecem
palavras que ensurdecem
mesmo depois de terem sido ditas vezes sem conta

the good times (aka science) are killing me

sabe-se que se bateu no fundo quando se adormece a ler um artigo que se está a rever e só se acorda às 4 da manhã com as luzes ainda acesas (e se pensa, "mas eu deixei as luzes acesas? demorei 3 horas a piscar os olhos?...."). isso ou o artigo não faz qualquer sentido...

fingers crossed...

(poster, poster, poster, poster!!!!)

fevereiro 22, 2006

puncture

desde que se lembrava, sempre tinha vivido com uma deficiência congénita. todas as outras pessoas tinham nascido com um músculo altamente resistente no local onde o coração se aloja no corpo. músculo que ora atrofia e se transforma em pedra, ora desenvolve uma hipertrofia e enceta um ciclo vicioso de cortes profundos e cicatrizes lentas.

no seu caso, aquele espaço era preenchido por um coração insuflável, constituído por material incerto e sem manual de instruções ou prazo de garantia. adequava-se à sua mentalidade de criança. as outras atavam fios a balões e passeavam-nos na rua. ele contentava-se com o coração insuflável que nunca voava para muito longe pois não estava repleto de hélio. na verdade, o ar fazia-o cair constantemente para o chão, onde se arriscava a ser pisado por transeuntes incautos.

ficava repleto com as mais pequenas coisas. uma palavra colocada cirurgicamente numa frase de autoria alheia (a qual saberia de cor após a repetir suficientes vezes), um olhar como aqueles que todos usamos quando olhamos fixamente o horizonte, um sorriso honesto.

não é portanto de estranhar que o volume nunca fosse constante e que, como tal, fosse necessário controlar minuciosamente a pressão interna. afinal de contas, não havia garantia e o seguro não cobria danos causados por negligência por parte do utilizador.

conseguiu manter-se dentro dos limites aceitáveis, mesmo sofrendo com algumas variações. até ao dia em que subitamente descobriu que o desgaste causado pelo tempo e pelos repetidos aumentos súbitos de conteúdo gasoso tinha provocado danos irreversíveis. um furo lento. e um esvaziar penoso...

the great pretender

"...first year (...) been assessed (...) congratulate you in successfully transfering (...). enclosing (...) comments (...) in planning your studies (...) coming year."

"...address comments (...) confirm expectations (...) very competent (...) story enough (...) basis for his (...) expected (...) publication (...) all (...) recommended (...)."


am i the only one spotting the flaws and the irony of this situation?

fevereiro 20, 2006

painting lives

...com a tela dentro do corpo e os pincéis por detrás dos olhos, caminhava pelo meio das multidões olhando fixamente os olhos de todos os estranhos na contra-corrente. uns segundos bastavam-lhe para que traçasse a árvore genealógica da pessoa em questão até à quarta geração. quer passada, quer futura.

imaginação não lhe faltava. tinha-a para dar e para vender, se tal fosse possível. o seu problema era não a conseguir passar para o papel e escrever uma história digna de ser contada. por vezes, pensava que tinha um íman para toda a imaginação que lhe surgia, e que a sugava para o seu interior. como se tudo o que de mal existia dentro de si necessitasse de se aniquilar com o que mais próximo de anti-matéria estivesse à mão de semear.

pintor de vidas. as alheias com pinceladas largas e coloridas, preenchendo uma vastidão de espaço que parece não ter fim. a sua, em tons de cinzento ou totalmente a preto, microscópica e imutável. no fundo, o que queria era que alguém o usasse como tela...

clouds

e não sei porquê, depois desta fiquei com uma música dos supertramp a tocar incessantemente na cabeça...
note to self: don't drink and compute...

fevereiro 19, 2006

the sixth face

para aqueles que se interrogam (como eu às vezes...) o que é que eu ando mesmo a fazer por cá

it's raining outside

enquanto eu queimo pestanas e neurónios lendo e relendo artigos, planeando as semanas que se seguem e o trabalho necessário para fazer o "wrap up" de algo que era suposto prolongar-se por 3 anos e meio a 4 anos. sempre ficará bem no cv a capacidade de trabalhar em assuntos distintos durante o phd...

fevereiro 17, 2006

acceptance

damage is done
salvaging has slowly started
just have to gather some strength and move the fuck on

and i definitely will

depression

i was planning to dwell for quite a while in this one, but after today i think i'll merrily go my way towards the final phase...

fevereiro 16, 2006

manias

mal acredito que estou a responder a isto, mas aqui vai... pelos vistos é para nomear 5 manias que nos identificam (só 5?? too easy...) e passar isto a mais 5 pobres coitados, qual esquema da pirâmide (mas esta, infelizmente, sem dinheiro...)

5 manias (por ordem aleatória):

1 - assobiar constantemente enquanto trabalho. tudo serve para ser assobiado, desde as músicas que passam na rádio, no iTunes do meu computador ou no telemóvel dos restantes membros do lab...

2 - roer as unhas. já o faço há tanto tempo que já cheguei ao ponto de não me lembrar quando foi a última vez que cortei as unhas com tesoura... (ao menos não como caspa nem burriés, hábitos muitas vezes acoplados a este...)

3 - mexer compulsivamente no nariz (aka batata disforme que está no meio da minha cara) quando estou nervoso ou não me sinto à vontade. quando digo mexer no nariz, nada tem a ver com retirar primatas do mesmo. é só uma tentativa de esconder a cara e desviar as atenções da minha pessoa.

4 - pensar demasiado nas coisas. racionalizar em demasia. fazer elaborados filmes repletos de fantasia e wishful thinking a partir de acontecimentos banais do dia-a-dia. neste inclui-se o hábito inconsciente de imaginar que sofro todo o tipo de mortes violentas e acidentes bizarros possíveis e imaginários...

5 - gozar de forma prolongada e exagerada com as pessoas que me põem à vontade. tanto que é quase impossível ter conversas sérias por mais de 15 minutos...

já que não acho muita piada a estes esquemas da pirâmide, deixo o repto àqueles que deixarem comentários e que ainda não tenham respondido a este questionário. (palpita-me que não terei muitos comentários...)

bargaining

então e se eu prometer esforçar-me mais? posso voltar à altura em que nada disto me passava sequer pela cabeça?...

anger

√©Ω«∑@æ@!±#$%?*=$%#%#&#&^|:>± i hate it! how colud no one see it happen? why now? why??.... ©√„æ§π€#%)#=%

fevereiro 15, 2006

denial

não quero mais diálogo
não quero usar as palavras dos outros
não quero mastigar a comida digerida por outrém
não quero ouvir constantemente os mais profundos receios
não quero ser lembrado a cada segundo da solidão
não quero a indefinição, a incerteza ou o sentimento de impotência
não quero a frustração dos dias que passam sem horizonte
não quero desperdiçar batimentos cardíacos nem movimentos supérfluos
não quero tempo perdido
não quero objectivos moribundos
não quero acreditar na verdade
não

fevereiro 14, 2006

sympathy for lady vengeance

Image hosting by Photobucket

definitivamente este não era o filme que estava à espera de ver ontem (a ideia inicial era ir ver o "walk the line" mas alguém se enganou a ver a hora do filme - ;) - e este era o único à hora entretanto combinada. entre ver este filme e ficar 2 horas à seca em camden, sempre é melhor ficar no quentinho...).

pois bem, este filme sul-coreano, realizado por Park Chan-wook, insere-se numa trilogia que inclui "sympathy for mr vengeance" e "old boy", este último altamente recomendado pelos críticos (e por um dos membros do meu lab. depois deste, fiquei com vontade de ver o "old boy"...). como os nomes (de pelo menos 2 dos filmes...) indicam, a trilogia conta 3 histórias cujo motor é a vingança. mas, onde (segundo rezam as crónicas) os outros filmes estavam carregados de violência, "lady vengeance" assenta mais na forma como a história é contada do que na violência propriamente dita que, em abono da verdade, só surge no último terço do filme.

é um filme que explora o sentimento de vingança, não exclusivamente pelo desejo de retribuição (sim, sim... é a tradução literal de retribution, mas explica bem aquilo que quero dizer), embora seja esse o motivo inicial, mas muito mais pela "promessa" de redenção. fiquei surpreendido com a qualidade do filme, a realização, a música envolvente, o humor negro e, sobretudo, a forma como uma história aparentemente simples ganha contornos cada vez mais dark.

um filme a ver. nem que seja só para desenjoar dos blockbusters que usam e abusam dum modelo instituído.

fevereiro 13, 2006

deafening tunes #17

M83 - "a guitar and a heart"

Etiquetas:

fevereiro 09, 2006

away day

basicamente é mais uma desculpa que estes osgas arranjam para não trabalhar... todos os estudantes de doutoramento (todos, não! todos os que tiveram a infeliz ideia de responder ao mail a dizer que não se importavam de participar. sadly, eu sou um deles...) do meu instituto (ou melhor, do sub-instituto em que me encontro. o tal de breakthrough. se as pessoas que angariam dinheiro para a investigação soubessem que eu ando a trabalhar com moscas num insituto que supostamente estuda cancro da mama...) reunidos num local algures (ainda tenho que descobrir onde raio é Portland Place...) no centro de Londres para and i quote:

"1. get to know everyone
2. share experience / skills / problems
3. get broad view of what research is ongoing within Breakthrough"

end of quote
. é nestas ocasiões (e nas raras festas que acontecem neste instituto) que acontecem aquelas situações sui generis em que alguém se chega ao pé de mim e pergunta: "és novo por cá, não é? há quanto tempo cá estás?" (ler com voz típica de osga que só está a fazer o favor e que não se importa nada contigo. podias bem morrer à frente dele (ou dela) que a pulsação dele (ou dela) aumentaria um ou dois batimentos cardíacos por minuto). é claro que a minha resposta é invariavelmente "não, não sou novo... já cá estou há 6 meses / 9 meses / 1 ano / actualmente 1 ano e 3 meses..."

a pior parte é que a apresentação será sem powerpoint e só com acetatos (alegadamente para tornar as coisas mais informal and fun...). prevejo que ninguém vai entender nada do que estará escrito nos meus...

fevereiro 08, 2006

shattered

a life suddenly shattered with a simple sentence. like a stone falling in a lake, sending small ripples that eventually turn into giant waves that take everything in their way. and everyone is looking in disbelief (they can't help it. morbid curiosity mixed with genuine concern unlike the feelings that surface when you drive by a gruesome car accident)... "how can it be? where did this come from? i'd never thought...". it's always this way. amputations are never painless...

serviço publico

a todos os cientistas portugueses espalhados pelo mundo e arredores que porventura venham aqui parar, uma informação preciosa para um futuro próximo.

inscrevam-se no Papa-Formigas, uma base de dados com cientistas portugueses, desenvolvida por um amigo desterrado nos States (e colega de programa de doutoramento, "O" grande T...), que tem como objectivo establecer uma network entre os cientistas portugueses dentro e fora de Portugal, para que todos possam beneficiar das experiências dos restantes numa futura escolha de laboratório para doutoramento, pós-doc, etc.

não custa nada pois o site está extremamente bem organizado (outra coisa não seria de esperar...).

um pequeno espaço publicitário não pago neste blog. há uma primeira vez para tudo...

fevereiro 07, 2006

lords of war

ora aqui está um filme que certamente irei ver. a história é sem dúvida um ciclo vicioso. e prestem (bem) atenção à última frase...

fevereiro 06, 2006

dreams are strange beasts

...a slight distortion of reality making up for the lack of visual aids and information...
...damn that alarm clock...
...i wanted to see the end of it.

munich

nunca um filme teve timing tão apropriado como o mais recente do Spielberg. num tempo em que a situação no médio oriente (mais uma vez...) parece regredir, surge este retrato (ficcionado é certo, mas mesmo assim inspirado em factos reais) contemporâneo da lei de talião. o célebre "olho por olho, dente por dente" que gera o ciclo vicioso da violência de parte a parte.

é um filme negro, violento (muitas vezes brutal e portanto muito bem conseguido porque a realidade é mesmo essa, não vale a pena pôr paninhos quentes e esperar pelo final feliz e o arco-íris no horizonte), que questiona (ou deveria questionar) as razões por detrás do "eterno" conflito entre israelitas e palestinianos. contrariamente àquilo que se disse e discutiu, este filme não é anti-israelita ou anti-palestiniano. é simplesmente um espelho daquilo que acontece todos os dias no médio oriente. um espelho que, por mais que as pessoas olhem para ele, não consegue mudar a mentalidade enraízada ou mostrar a impotência perante a violência que continua(rá) a ser a moeda de troca.

para mim, o filme resume-se a uma das frases do diálogo final:
"peace is not at the end of this. no matter what you believe"

fevereiro 03, 2006

the equipment is not always right...


a porcaria da tampa está a irritar-me tanto que estou capaz de te rebentar toda e de te vender às peças depois disso. não fosses tu nova...

apologies to the queen mary


tenho de desencantar este álbum dos Wolf Parade (mais uns canadianos, se não me engano...) do monte de cds que por aqui andam para o ouvir como deve ser... é que o "shine a light" começa a ser presença frequente na playlist do iTunes. o que me lembra que tenho que criar uma party playlist para a semana que vem... e agradar a gregos e troianos?

fevereiro 02, 2006

straight lines

caminhava sempre em linha recta. sem nunca se desviar do caminho. sem entrar em atalhos e sem hesitações. nunca abrandando o passo.
desde que ouviu - nas longínquas aulas de matemática, povoadas de equações, ângulos e regras - que a menor distância entre dois pontos é sempre uma linha recta, a sua vida não mais foi a mesma. daí em diante, tomou sempre o caminho mais curto, a via mais fácil, que lhe permitisse ver claramente o ponto B para onde se dirigia.
desde que assim fosse, nada lhe parecia impossível. nenhum caminho era demasiado longo e não havia obstáculos inultrapassáveis. desde que não parasse de andar. e sempre - mas sempre - em linha recta.
como tal, deixou de olhar para os lados - e mesmo para trás - pois o objectivo estava sempre num ponto diametralmente oposto ao que se encontrava.
nunca se deu conta que alguém caminhava na mesma direcção, seguindo os seus passos, tomando o caminho mais longo e tortuoso...

hibernating or a xxi century fable

autumn in the woods and the animals are playing, as always, under the blue sky, revelling in the last days of warm sunshine. frolicking about, running around trees, racing in the endless fields of tall shrubs. an undetermined number of juvenile foxes and a small bear.
no one ever stopped to consider that the bear was different from everyone else. he was just part of the gang. always there and always present. like the trees that hold the swings where little people learn how to fly. simply part of the scenery. almost with a perennial feel to it.
the games continued until the sun showed its face less and less every day. and with it, the warmth in the air was replaced by the chilling wind that leaves faces numb and expressionless, and freezes hearts.
the bear was always there. until the day came for him to hide inside the cozy cave he had prepared earlier, much to the fashion of the presenters of cooking shows on TV. out of the blue, he just disappeared.
the foxes noticed no difference, earlier on. only later, they realized someone was missing, although they couldn't quite point out who was it. a search party was organized. they roamed all over the woods, looking in every corner and leaving no stone unturned.
finally, one of them found the bear in his cave. being rather inquisitive, and also knowledgeable - for a fox, that is -, the fox asked the bear if he had disappeared because he was hibernating. or rather about to, because he was still awake.
"contrary to popular belief, us bears do not hibernate", replied the bear. "so, why do you do it?", insisted the fox.
the bear calmly sat down and explained:
"you see, it's just in my nature to go away and hide. this way i can enjoy even more the time we spend together when i get back, because isolation makes me realize how much i loved playing with you guys in the first place..."