puncture
desde que se lembrava, sempre tinha vivido com uma deficiência congénita. todas as outras pessoas tinham nascido com um músculo altamente resistente no local onde o coração se aloja no corpo. músculo que ora atrofia e se transforma em pedra, ora desenvolve uma hipertrofia e enceta um ciclo vicioso de cortes profundos e cicatrizes lentas.
no seu caso, aquele espaço era preenchido por um coração insuflável, constituído por material incerto e sem manual de instruções ou prazo de garantia. adequava-se à sua mentalidade de criança. as outras atavam fios a balões e passeavam-nos na rua. ele contentava-se com o coração insuflável que nunca voava para muito longe pois não estava repleto de hélio. na verdade, o ar fazia-o cair constantemente para o chão, onde se arriscava a ser pisado por transeuntes incautos.
ficava repleto com as mais pequenas coisas. uma palavra colocada cirurgicamente numa frase de autoria alheia (a qual saberia de cor após a repetir suficientes vezes), um olhar como aqueles que todos usamos quando olhamos fixamente o horizonte, um sorriso honesto.
não é portanto de estranhar que o volume nunca fosse constante e que, como tal, fosse necessário controlar minuciosamente a pressão interna. afinal de contas, não havia garantia e o seguro não cobria danos causados por negligência por parte do utilizador.
conseguiu manter-se dentro dos limites aceitáveis, mesmo sofrendo com algumas variações. até ao dia em que subitamente descobriu que o desgaste causado pelo tempo e pelos repetidos aumentos súbitos de conteúdo gasoso tinha provocado danos irreversíveis. um furo lento. e um esvaziar penoso...
no seu caso, aquele espaço era preenchido por um coração insuflável, constituído por material incerto e sem manual de instruções ou prazo de garantia. adequava-se à sua mentalidade de criança. as outras atavam fios a balões e passeavam-nos na rua. ele contentava-se com o coração insuflável que nunca voava para muito longe pois não estava repleto de hélio. na verdade, o ar fazia-o cair constantemente para o chão, onde se arriscava a ser pisado por transeuntes incautos.
ficava repleto com as mais pequenas coisas. uma palavra colocada cirurgicamente numa frase de autoria alheia (a qual saberia de cor após a repetir suficientes vezes), um olhar como aqueles que todos usamos quando olhamos fixamente o horizonte, um sorriso honesto.
não é portanto de estranhar que o volume nunca fosse constante e que, como tal, fosse necessário controlar minuciosamente a pressão interna. afinal de contas, não havia garantia e o seguro não cobria danos causados por negligência por parte do utilizador.
conseguiu manter-se dentro dos limites aceitáveis, mesmo sofrendo com algumas variações. até ao dia em que subitamente descobriu que o desgaste causado pelo tempo e pelos repetidos aumentos súbitos de conteúdo gasoso tinha provocado danos irreversíveis. um furo lento. e um esvaziar penoso...