the show must go on
[a multidão permanece impávida e serena, sem reacção às palavras proferidas. público difícil, este]
"sem mais demoras, aqui está o momento pelo qual esperaram durante tantos anos"
[o som do projector a arrancar sobrepõe-se sempre ao ruído de fundo]
"devo confessar que também estou curioso. é a primeira vez que vou ver isto com outros olhos..."
[pára de sorrir dessa forma estúpida. não adianta de nada. não vais conseguir convencer ninguém...]
[a película começou finalmente]
"esta parte deve ser interessante. não me lembro nada disto..."
[oh não! outra vez o sorriso estúpido... aquele ali do canto já não está a achar piada nenhuma]
(...)
"até que é engraçado ver as coisas assim. nunca pensei que a minha voz soasse assim. coitadinho de quem me aturava..."
[como a vida parece simples quando se é jovem]
(...)
"realmente, esta parte mais para o fim não tem tanta piada..."
[o peso do tempo quebrando os ossos cansados de tanto suportar o corpo envelhecido]
(...)
"bom... é isto. bem sei que não é grande coisa, mas não me cabe a mim decidir o meu destino. acabaram de ver aquilo que fiz com o tempo que me foi concedido no mundo."
[ninguém diz nada? não era suposto isto ser rápido? onde é que está a luz ao fundo do túnel?]
"como? ainda não é suficiente?"
[estão a brincar comigo?]
"voltar? como assim? não era suposto estar morto?"
[é melhor não discutir muito, senão ainda volto como alface...]
(...)
[uma palmada no rabo? que sensação estranha de dejá vu... deixa-me lá chorar que era isso que estava no guião anterior]
(...)