exclusive interview
zorze - "muito bom dia, doutor paulo ribeiro"
eu - "ora essa! trate-me por paulo. aliás, tecnicamente ainda não sou doutor. só daqui a uns anitos, quando acabar o doutoramento. ou deverei dizer se? venham de lá esses ossos e deixemo-nos de doutores para cá e para lá que isso é caganeirice que só se vê em portugal. lá é que todos insistem ser tratados por doutor, mesmo quando só têm uma licenciatura. aliás, aproveito para começar esta entrevista com uma estatística (os números impressionam sempre os leitores. e as gajas...). sei de fonte segura que cerca de 70% da população portuguesa tem como primeiro nome doutor. pelo menos é esse o primeiro nome que aparece no cartão de crédito e corrigem sempre alguém que os chama pelo nome próprio, entretanto relegado para a 2ª posição..."
z - "pois, muito interessante... mas não era bem isso que eu queria saber. estava mais interessado em saber a história da tua vida e, especificamente, o que te trouxe a londres, esta maravilhosa cidade"
e - "olha, também me faço essa pergunta frequentemente... se calhar é melhor começar por dizer que nunca soube muito bem o que é que queria ser quando fosse grande. continuo a não saber, mas já disfarço melhor. acabei por tirar o curso de biologia (mais concretamente biologia microbiana e genética) em lisboa. surpreendentemente, um curso que me ajudou muito nos anos que se seguiram. devo dizer que não foi de todo inútil. depois duma experiência "especial" durante o meu estágio, correspondente ao último ano do curso, decidi candidatar-me ao programa de doutoramento em biomedicina no instituto gulbenkian de ciência. nunca tinha ouvido falar do programa antes na minha vida (sempre fui um bocado clueless nestas coisas...), mas pelos vistos tinha (sim, porque entretanto já acabou, juntamente com a companhia de bailado...) e tem muito prestígio na comunidade científica. muito por culpa do velho síndrome do português emigrante que trabalha de sol a sol."
z - "mas porquê londres? porque não ficar em portugal?"
e - "quem diz londres, diz adis abeba, ulan bator ou salt lake city. basicamente podia ter ido para onde quisesse, fazer o que bem me apetecesse. dado que tenho o meu próprio financiamento, cortesia da FCT (muito obrigado!!!), os chefes dos labs para onde enviamos cartas ficam logo muito receptivos... como decidi que queria continuar a trabalhar naquilo que tinha feito no estágio (já lá vamos...), foi só passar umas boas horas na internet a procurar labs que parecessem, na teoria, bons sítios para fazer o doutoramento. a partir daí foi um instante. dum número inicial de 30 e tal labs, só 4 é que resistiram até ao fim. 2 em washington (terra do cabrão do jorginho) e 2 em londres. depois de os visitar, acabei por me decidir por este onde nos encontramos agora..."
z - "e então o que é que andas a fazer quando não estás a encanar a perna à rã?"
e - "bom, estou a estudar mecanismos de morte celular. isto é, estava até há duas semanas atrás, quando tive uma notícia muito interessante que provavelmente vai fazer com que o trabalho do meu primeiro ano vá com o c*r*lh*. epá, depois corta isto. não quero que as pessoas pensem que eu sou daqueles gajos que está sempre a dizer m*rd* e outras coisas que tais, porque até nem é verdade... passando à frente, estava (e ainda estou porque ainda há uma réstia de esperança...) a estudar como é que as células activam o programa de "suicídio" ou auto-destruição que carregam consigo nos seus genes. isto tudo porque só sabendo como é que as células morrem é que algum dia poderemos manipulá-las de forma a que não morram (para doenças auto-imunes e neurodegenerativas, por exemplo), ou para que morram só as que queremos que morram (caso do cancro). finalizo só dizendo que estou a fazer isto com a ajuda de um dos melhores modelos biológicos, a mosca da fruta (drosophila melanogaster para os amigos...)"
z - "pera lá, mas isto aqui não é um instituto de investigação em cancro da mama? desde quando é que as moscas têm mamas?..."
e - "acho que é melhor ficarmos por aqui... vamos mas é emborcar umas pints ali no pub e eu conto-te o resto da história..."