novembro 22, 2005

crooked feet

cedo aprendeu a caminhar sem emitir qualquer som. não queria atrair as atenções para os seus pequenos pés.
detestava-os.
pareciam-lhe disformes, completamente tortos e diferentes de qualquer outro pé duma pessoa dita normal. sentia-se como um centauro, com cascos em vez de pés.

[se bem que, ao contrário dos centauros, o pêlo prolongava-se para a metade humana. pensando bem, nele não havia metades distintas. primata peludo por inteiro]
com a diferença de que os centauros, mesmo tendo cascos, sempre tinham alguma graciosidade de movimentos. ele não. desajeitado nos movimentos,
[perdas de equilíbrio eram constantes. como se o ouvido interno estivesse desligado do resto da cabeça e, portanto, incapaz de orientar correctamente o corpo]
ainda mais desajeitado nas palavras, que saíam em catadupa. geralmente sobre coisas que ninguém achava interessantes. mesmo assim sorriam. aquele género de sorriso amarelo, embaraçado, ansioso por mudar de assunto.
apesar de tudo, adorava correr.
sempre sozinho.
para ele, era uma forma de meditação em movimento. sentir o vento na cara enquanto os quilómetros ficam para trás. até que o corpo não aguente mais e as dores musculares tomem conta do pensamento.
e tudo sem nunca ter usado
[uns bem merecidos - e necessários]
sapatos ortopédicos

3 ex troardinary remarks:

Blogger Ana Elias wrote...

Cá está a doce versão do canastrão...

22/11/05, 14:59  
Blogger paulo wrote...

doce? é mais a versão torta (e quem nasce torto, tarde ou nunca se endireita...) do canastrão!

22/11/05, 18:16  
Blogger Ana Elias wrote...

Pois sim, está bem... és tu e o Corcunda de Notre Dame!*

22/11/05, 20:24  

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