novembro 15, 2005

air desire

o vento sussurava o seu nome. as nuvens desenhavam estradas por percorrer, gente por conhecer e lugares por visitar, no imenso céu azul. as noites não lhe davam descanso. enquanto todos sonhavam com dias de diversão futuros, contemplava o tecto com um sorriso nos lábios. ali, no escuro, ninguém sabia que não dormia, ninguém lhe podia dar ordens, ninguém adivinhava os seus pensamentos. a ausência de sons externos era como música para os seus ouvidos. ideal para ouvir com atenção as próprias cogitações. para escutar a voz da consciência e o grito do coração.

toda a vida tinha sentido o chamamento. como se tivesse nascido ao mesmo tempo que algo que nunca tinha conhecido, do qual nada sabia (nem sequer o nome), mas que atraía como uma gigantesca estrela. com a diferença que a força exercida era consideravelmente superior à da gravidade, pelo menos a que Newton em tempos definiu. era uma força distinta, incapaz de ser descrita por simples equações matemáticas. demasiadas variáveis se encavalitariam umas em cima das outras até que se conseguisse chegar a um número. e, mesmo esse, pouco ou nada explicaria.

chamava-lhe simplesmente a origem. não a origem de início, mas a origem de original, como o pecado. sim, porque a força que sentia, fazia com que sentisse claustrofobia dentro das próprias roupas. tinha vontade de as rasgar, sentia que eram uma prisão maleável para o seu corpo e espírito. se os outros soubessem o que lhe ia na cabeça, dir-lhe-iam que era loucura.

eles que ficassem com os pés assentes na terra, com a cabeça enterrada na areia e o cérebro arrumado numa caixa. bastava-lhe o ar, o meio invisível por onde viajava sem sequer mexer um músculo.

5 ex troardinary remarks:

Blogger Ana Elias wrote...

Não é que me apeteça elogiar-te... mas este texto está muito bom.

Beijinhos

15/11/05, 10:19  
Blogger Zorze Zorzinelis wrote...

Só poderia estar; estamos na presença de uma criatura muito sensível!

15/11/05, 11:24  
Blogger paulo wrote...

finalmente consigo responder aos comentários... começo a ficar farto da lentidão do blogger.

sim, tem dias em que a criatura é sensível. tem outros em que é um canastrão de primeira apanha.

beijos e abraços

15/11/05, 12:35  
Blogger Ana Elias wrote...

Canastrão! Canastrão é uma palavra bem fixe... Um gajo que é canastrão, não é insensível, é só desajeitado... o que até revela alguma sensibilidade...

Tenho uma boa notícia para te dar: Tu não sabes, mas tens futuro... conheço por aí umas miúdas que desarmam completamente na presença de um canastrão.

15/11/05, 12:42  
Blogger paulo wrote...

a propósito do canastrão e do facto de ter futuro (vá lá, nem tudo é mau), estava a guardar uma posta de pescada para amanhã, mas vai já...

15/11/05, 13:41  

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