dezembro 07, 2005

romance is dead

já não sei o que é ser romântico, disse enquanto olhava a chuva que caía lá fora. parecia esperar que alguém o contrariasse e o fizesse retirar de imediato as palavras que dissera. complicado, numa sala vazia de conteúdo para além dos objectos essenciais. uma mesa em avançado estado de decomposição, uma velha cadeira do século anterior e uma vela atarefada a derreter-se a si própria. por graça, costumava chamar-lhes suicídios lipídicos, mas mais ninguém achava piada.

continuou o diálogo consigo mesmo com mais uma provocação. o amor de nada vale. é supérfluo. chega mesmo a ser pernicioso para a saúde. na realidade, só acreditava na última parte. perigoso para a saúde, sim. supérfluo e sem valor, nunca. afinal de contas, era o amor que lhe pagava as contas, era a sua fonte de inspiração.

doía-lhe escrever sobre ele. era como arrancar dentes sem qualquer anestesia. deixava-o ensanguentado; perdia um pedaço de si de cada vez que relatava uma história de amor (amalgamadas a partir de instantâneos autobiográficos e de horas à mesa, de caneta na mão).

as piores eram as que pareciam perfeitas (à primeira vista) e que acabavam invariavelmente em tragédia. piores porque exigiam mais esforço e, sobretudo, por serem as mais reais. as que mais o lembravam dos erros passados. as únicas que o faziam chorar.

5 ex troardinary remarks:

Blogger Unknown wrote...

Faço minhas as tuas palavras:

"perigoso para a saúde, sim. supérfluo e sem valor, nunca"

Mas com enfâse para a primeira parte...

07/12/05, 17:46  
Anonymous Anónimo wrote...

Se há coisa sobre a qual eu gostava de conseguir escrever sem sentir que não estou a fazer sentido nenhum, era precisamente esta: o amor.

Já li algures que tudo se resume a cheiros e feromonas... e portanto não vale a pena contrariar a natureza, «what's ment to be, is ment to be...» e o inverso idem. O facto de sermos rejeitados está explicado desta forma fisiológica e crua... mas a mesma teoria prevê que há de existir algures alguém que goste das nossas características e nos (pre)sinta o cheiro, as feromonas, ou lá o que seja... portanto há compatíveis e incompatíveis... por isso não há que desanimar, e mais dia menos dia aparece-te à frente uma «cheirosa» compatibilidade. As simple as that.

Eu avisei que não ia fazer sentido;)

De facto, não sei se será exactamente assim.

Custa-me acreditar que seja... mas olha, à falta de melhor, aqui fica um abraço de alguém que não te conhece, mas te conhece, e a frase roubada à sabedoria popular: aquilo que não nos mata, fortalece-nos.

Beijinhos!

07/12/05, 21:58  
Blogger paulo wrote...

sim, pedro, é realmente perigoso para a saúde. já diziam os ornatos violeta pela voz do espadinha: "o amor é uma doença quando nele procuramos ver a nossa cura"

marisa, também eu gostava de saber escrever sobre o amor e fazer sentido. é muito difícil porque o amor não tem sentido nenhum. não tem lógica (ou se a tem é uma lógica que desafia a lógica convencional).

é certo que há uma base biológica para o amor (se bem que a base biológica se resuma mais à parte de atracção que outra coisa). mas se tudo fosse biológico, não seríamos um "animal" monógamo (que geneticamente não faz grande sentido, diga-se) e não haveria amor. aliás, a maioria dos estudos sobre atracção e afins identificam sempre o mesmo padrão nos homens e mulheres (em termos de características físicas). mas assim que se pede para escolher alguém para uma relação duradoura, o caso muda completamente de figura.

08/12/05, 10:52  
Blogger Ana Elias wrote...

Conclusão: Temos aqui 3 românticos a comentar um post intitulado "Romance is Dead"...
Bonito, sim senhor! Muito bonito!

08/12/05, 11:10  
Blogger Unknown wrote...

Sim é bonito... no fundo,é romântico!

Gosta da menção ao mítico Espadinha, Paulo.

09/12/05, 16:42  

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