olho kunami fresquinho! (ou como um sabado em Londres se pode tornar numa experiencia intensa de surrealismo...)
objectivo: portobello market, para a continuação das compritas de fim-de-semana, em versão frutólegume...
como sempre o encontro foi à porta do farol (leia-se catedral de Westminster... mas como a torre deve ter à vontade 12 andares mais parece um farol). 10h45m, mais coisa menos coisa. o senhor engenheiro, dótôr palonço aparece com o seu "andar novo", cortesia do mestre de shaolin boxing. no dia anterior tinha ido pela primeira vez a uma aula de shaolin boxing e, como boa cobaia, teve que se sujeitar às práticas de (quase) mórbido sadismo por parte de um velhote chinês (que obviamente não falava puto de inglês...) com metro e meio. ele bem que sabia o que o esperava assim que viu o cabrão do velho a olhar muito para ele e para a outra vítima inocente de nome Paul (também ele uma futura espetada...).
resultado da sessão de shaolin boxing: o menino sai de lá com um andar novo, versão esclerosada que não lhe permite subir e/ou descer escadas como uma pessoa normal... (também não é assim tão mau, porque quando estamos juntos até nem destoa, dada a minha forma peculiar de locomoção, carinhosamente apelidada de "andar aos saltinhos"... enfim, um verdadeiro par de jarras...).
lá fomos nós para portobello market, que se situa muito perto de notting hill. seria uma viagem muito rápida caso o metro colaborasse. mas ao bom velho espírito tuga, este fim-de-semana resolveram mais uma vez fechar as linhas verde e amarela (district e circle para satisfazer a ávida veia enciclopédica dentro de vós...) por causa das obras de substituição dos carris...
chegámos a portobello market, andámos lá a dar umas voltas (matrioskas para cá, máquinas fotográficas do séc. xix para lá...) e finalmente chegámos à zona dos produtos frutóvegetálicos...
primeiro foi a compra dos vegetálicos. até aqui tudo bem. depois veio a parte dos frutó... chegámos a uma barraquinha com uma senhora lá no meio a apregoar os seus belos frutinhos. 6 mangas a uma ponda, 8 laranjas a uma ponda, 10 bananas a uma ponda, etc. e tal. o que é que os tugas pensaram logo? bom, grande negócio, compramos esta cena toda a meias e levamos mais do dobro que levaríamos pelo mesmo dinheiro em qualquer outro lado.
se assim pensámos, mais depressa o fizémos... toma lá as pondas, dá cá a fruta, ta da velha. de assinalar que por esta altura já andava o menino que a ajudava a carregar caixotes de fruta de um lado para o outro (enquanto falava qualquer coisa que não se entendia... são loucos estes ingleses! - mais à frente abordarei novamente este assunto porque acho que consegui descortinar o que ele estava a dizer...).
pronto, missão cumprida. chegámos, vimos e comprámos.
toca a voltar para trás. o que é que as pessoas normais fariam? voltar para trás pelo caminho inverso, certo? pois está claro que fizémos exactamente o oposto. continuámos a andar, a andar, a andar (passámos pelo flea market, equivalente da feira da ladra para os osgas...) até que saímos do mercado. continuámos a andar até que tivémos a ideia peregrina de ver onde estávamos no mapa do Hugo.
[abro aqui um pârentesis (e não é um qualquer, é dos rectos!) para deixar umas palavrinhas em relação ao mapa do Hugo. aquilo já não se pode chamar de mapa, é mais um sortido de pequenos pedaços de papel que, por obra do acaso, têm desenhados as ruas de Londres, dado o seu estado (deplorável) de conservação (melhor dizendo, decomposição...). fecha parêntesis]
vemos no mapa que estamos completamente do lado oposto de onde queríamos estar. ok, volta para trás. até que já estávamos a estranhar não andarmos muito como de costume. a parte boa é que passámos por uma patisserie de seu nome Lisboa, ou seja, de tugas. típico café tuga, com o seu azulejito creme nas paredes, bolo rei na montra e outras preciosidades tipicamente tugas.
andámos mais um bocadinho até à paragem de autocarro mais próxima. lá apanhámos um autocarro para Oxford St e fazíamos tenção de apanhar aí o metro para ir para Victoria. chegados a Oxford St, o autocarro decide que a paragem tem que ser a mais longe possível da boca do metro. como estávamos carecas de andar, vimos que podíamos apanhar um outro autocarro para Westminster, ou seja a "walking distance" de casa do Hugo. lá veio o autocarro (um "double decker" dos mais velhotes em que se entra e sai pelas traseiras...) e lá fomos nós. chegámos a Westminster e...
...passámos Westminster. passámos para o outro lado do rio. ainda começámos a andar a pé, mas como era um bocadinho longe e o Hugo estava em "esclerosado mode" lá ficámos na paragem para cometer mais um acto de podridão e apanhar um autocarro por uma ou duas paragens. mas vá lá que desta vez ficámos na paragem certa...
próxima paragem, a casa das pizongas! lá fomos quemer a bela pizonga que caíu que nem ginjas apesar de nenhum de nós gostar assim tanto de ginjas... já mais aconchegadinhos na parte estomaco-abdominal, fomos até casa do Hugo para dividir a bela da frutinha pelas aldeias.
aqui continua a saga do surrealismo, mas desta vez provocado. como sabem (se não sabem ficam a saber...), os visitantes da casa do uígra (ou em inglês, Wigram House) onde o por-todos-estimado palonço actualmente reside, têm que assinar à entrada. para tal têm que pôr o seu próprio nome e o nome de quem vão visitar. uma tradição milenar, instituída em Setembro de 2004, manda que os visitantes alterem o nome do visitado. quem não cumprir esta tradição arrisca-se a ficar nos 4% para toda a vida (os 4% referem-se à percentagem de pessoas estrangeiras que afirmaram numa sondagem sobre sexo que nunca tinham tido relações desde que chegaram ao UK - palpita-me que falhei esta tradição pelo menos uma vez...).
a tradição teve já momentos de rara beleza com os nomes emblemáticos de Hugo Castanho e Hugo Castanholas entre outros que agora não me vêm à memória. mas, a partir de hoje, nova tradição se instituíu, com parâmetros mais rigorosos e difíceis de superar. pois não só o nome do visitado foi alterado, mas também o do visitante e, ainda para mais, com alguma lógica à mistura.
... imaginem o rufar de tambores por favor...
cá está, o senhor Paulo Riberalves visitou hoje o senhor do quarto 702 da casa do uígra, de seu nome Hugo Bacalhau à Brás...
resta acrescentar que o Hugo não conseguiu estar ao pé de mim quando escrevi isto no livrinho e que eu tive que fazer um esforço monumental para não começar à gargalhada à frente da menina da portaria...
já na cozinha do palonço, abrimos o belo do saco da fruta e, qual não é o nosso espanto, temos um deja vu que nos recorda do milagre das rosas da Rainha Santa Isabel. mas no nosso caso, a bela fruta que tínhamos comprado umas horas antes e que parecia tão bonita e um tão bom negócio transformou-se no belo do kunami! ao menos estava fresquinho, derivado ao frio que se fazia sentir em Londres no momento da compra e transporte da suposta fruta...
volto agora ao senhor e ao seu "mumbling". o que ele estava a dizer entredentes era algo como isto: "uivefuledeanóderuone". ou seja, "anda-te embora maria que já enganámos mais uns papalvos...".
depois da desilusão com o kunami, a solução para retemperar o espírito foi mesmo assistir à primeira parte de um jogo de rubgy. nada melhor do que ver 30 marmanjos com cerca de 100kg cada aos encontrões, pisadelas, agarranços para uma pessoa se sentir menos mal... é verdade, pelo meio havia lá uma bola de forma esquisita e parecia mesmo que estavam a jogar um jogo porque havia pontuação. adiante...
depois do momento de relax, lá nos decidimos (e em muito boa hora) a visitar o museu de história natural. qual a razão para tal visita, perguntarão vós? muito simples, a exposição de Wildlife Photographer of the Year 2004.
mas, antes de chegar ao museu, numa viagem de metro passando por míseras 4 estações, mais um momento surreal... um senhor alegremente falando na carruagem do metro. a princípio ainda pensámos que estivesse a falar com alguém, mas cedo descobrimos a triste realidade. sim, estava mesmo a falar sozinho. é claro que quando nos apercebemos disso foi difícil controlar o riso. tanto que o Hugo teve que fazer uma retirada estratégica para o outro lado da carruagem. não tive a mesma reacção e, portanto, tive o (des)prazer de assistir ao máximo expoente da loucura enquanto o homem falava com a própria carteira, com o bilhete do metro, beijava a carteira, não parava de falar, ria para si próprio, eu sei lá. o meu cérebro fez o favor de esquecer grande parte da viagem...
bom, quanto à exposição propriamente dita, só se me apraz dizer simplesmente espectacular. se tiverem a oportunidade de vir a Londres até 17 de abril, aconselho vivamente que vejam a exposição. se, como bons tugas, acharem que as 3 libras (desconto de estudante porque o normal são 5...) que se paga pelo bilhete é um bocadinho abusivo, percam tempo a contemplar as fotos no site. mas acreditem que ao vivo as fotos ganham muito mais. aqui e acolá ficam as escolhas pessoais para as fotos mais marcantes.
e pronto, aqui fica o relato de mais um fim-de-semana na terra dos osgas. como vêem Londres tem o seu quê de surreal...