novembro 23, 2006

epitaph

a minha intenção nunca foi que isto chegasse a este ponto. adorava saber escrever apenas coisas alegres e descrever ao pormenor as situações pelas quais passei ao longo da vida. adorava analisar menos a vida que insisti em desperdiçar. viver de acordo com os meus desejos, sem me preocupar com a bagagem emocional dos que vieram antes de mim. sentir em vez de pensar. falar em vez de calar. adorava ter vivido uma história de amor daquelas que nascem dum olhar furtivo e só acabam numa idade avançada, no meio duma descendência numerosa e feliz. ver nascer alguém que é metade de nós e metade da pessoa para a qual vivemos toda a vida mesmo sem que o saibamos quando enchemos os pulmões pela primeira vez. adorava que a tristeza não fosse congénita, não corresse nas veias, não criasse véus turvos no olhar. que a dor não existisse. que a solidão fosse tão aleatória como adivinhar o número contemplado com o primeiro prémio. a minha intenção nunca foi que as coisas corressem desta forma. nunca tencionei desistir. adorava continuar a viver.
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1 ex troardinary remarks:

Blogger Filipe wrote...

Nice suicide note... Must remember to come here when I need one.

23/11/06, 14:57  

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