outubro 12, 2006

tree

o som quase imperceptível do sangue quebrara o silêncio. gota após gota, descendo a cascata das suas pernas. depois da torrente inicial que pincelara uma obra-prima da pintura abstracta em grande parte da parede atrás de si e do chão que pisava. quase como se um balão repleto de tinta carmesim se tivesse desintegrado subitamente.
teimosamente, permaneceu imóvel, desafiando a fúria que a fitava do outro lado da sala.

"o tempo de fugir chegou ao fim"
"o medo sufocante não mais mora aqui"


eram estes os pensamentos que lhe ocupavam a mente enquanto o seu agressor tentava desesperadamente compreender a situação.
nunca tal tinha ocorrido no passado, não teria havido esta (espécie de) pausa temporal que ameaçava prolongar-se até à eternidade. e, principalmente, teria havido som. o som do choro, do terror e, do que mais lhe interessava, da vontade alheia a ser quebrada como se de um pequeno galho se tratasse.
as sementes da revolta tinham sido lançadas, mas haveria tempo suficiente para lhes entorpecer o crescimento.
uma segunda tentativa de alcançar o génio de Pollock através de hemoglobina que não lhe pertencia.

"não desta vez"
"a trémula luz não se apagará"


o líquido som depressa seria substituído pelo sólido quebrar de entranhas calcificadas, pelo desmembramento corporal e pela loucura sanguinária da violência sem sentido.

"acaba hoje"
"acabo hoje"
"mas acabo livre"

1 ex troardinary remarks:

Anonymous Anónimo wrote...

As Erínias ou Fúrias como eram conhecidas pelos romanos, eram deusas vingadores ao serviço dos deuses do Inferno, puniam injustiças não só no mundo inferior mas tb no mundo superior. Estas deusas, eram mulheres com cabelos de serpente e dentes afiados, tinham cinturões de serpente, tochas e chicotes. Para não as provocar eram tb chamadas de Eumênides "as benevolentes".

13/10/06, 10:27  

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