julho 27, 2006

void

é a transição do escrito para o falado que assassina as hipóteses da inteligência se mostrar, do charme nascer e do destino se concretizar. lido, dir-se-ia estarmos na presença de alguém que se insere no mundo em que habita como um tijolo numa parede secular. ouvido, dir-se-ia estarmos na presença de alguém que padece de uma ou mais deficiências. dir-se-ia até estarmos na presença de alguém que na realidade é mudo. mudo, ou louco. mudo, louco ou então parvo. sim, parvo de certeza. mudo, se calhar até não. e de louco todos nós temos um pouco, o que é compreensível. todas estas ilações brotam das conversas de circunstância. ora essas estão feridas de morte. é que as circunstâncias em que ocorrem são contra natura. pelo menos para a pessoa em questão. conversas de circunstância não passam de monólogos entrecortados pelo monólogo de outrem. e para monólogos, já lhe bastam os internos que berram aos ouvidos do cérebro (coisa que é manifestamente impossível, dado os ouvidos estarem do lado de fora da cabeça e não no interior da mesma, no meio de massa cinzenta, branca, líquido cefalorraquidiano e estruturas cerebrais afins). insistindo na fugacidade da existência, na inevitabilidade da morte, no desespero da vida. dificilmente um tema de conversa que caia bem no meio das trivialidades do dia-a-dia. daí o vazio e vácuo negros que lhe absorvem a força vital.