junho 18, 2006

objects in the mirror are closer than they appear

as distâncias tornam-se relativas quando aferidas através da imagem de um espelho. é difícil ajuizar com exactidão o número de passos necessários para percorrer o espaço que separa dois pontos bem definidos. distinguir o que é certo do que é errado deixa de ser uma decisão de milisegundos para se assemelhar a uma jogada crucial de um jogo de xadrez. o preto e o branco perdem a definição de outrora e difundem-se numa pletora de cinzentos. o tempo que era o que se fazia dele arrasta-se pelas vielas do dia e pelas sarjetas da noite. as sentidas palavras que de forma lesta eram proferidas ganham gigantescas âncoras que lhes prendem os movimentos. os sentimentos dos dicionários e enciclopédias tatuam a mente, o coração e qualquer outro pedaço do corpo por onde tenham oportunidade de passar. as rotinas alteram-se e alojam-se como tumores inoperáveis. os caminhos traçados ao milímetro enrolam-se numa espiral descendente que mais ninguém vê. as certezas abandonam o seu forte inexpugnável. desertam o exército do bom senso, tornando-o uma força unitária. a empatia é amputada e a ferida devidamente cauterizada. porque é difícil ter sentido quando não há uma referência.