what lies beneath
não reconheço a voz que projecto
a pele que me separa do mundo não é a minha
não sinto o coração que bate no meu peito
dói-me o vazio da minha própria existência
o peso da minha apatia destrói-me os ossos
a esperança reside nos olhos de todas
mas nenhuma agarra a minha alma
ninguém me torna repleto como um balão na mão duma criança
antes sou um saco vazio ao sabor do vento
sem conteúdo
inútil e fora de prazo
resto de uma utilidade passada
à espera de algo
de um propósito para continuar
que me atormenta os pensamentos
e me cega a razão
não temo a morte
ainda não a desejo
quando a minha hora finalmente chegar
não quero lágrimas derramadas
quero sorrisos
nostálgicos
verdadeiros
em todos aqueles que conheci
porque nessa altura terei a liberdade
que nunca tive
estarei em todas as gaivotas pairando à beira-mar
em cada onda que brinca no areal
em cada folha duma árvore secular
em cada olhar e gesto genealógico
em todo o lado
para sempre